quinta-feira, dezembro 11, 2003

Já convenci mais um...

Não sei sequer se fui eu que o convenci a juntar-se ao clube (se é que eu me posso considerar do clube, dada a minha fraca performance recente), mas o que é certo, é que é mais um "viciado".
Muito recentemente o Zé Henrique juntou-se à Blogosfera, e irá partilhar conosco (comigo pelo menos) as suas vivências por terras de Roma.
Benvindo, e boa escrita, são os votos deste teu amigo!

Já agora, tomo a liberdade de transcrever o teu último Post, salvaguardando os respectivos direitos de autor:

T-011
Não sei quem é autor dete texto... a única referência que tenho é esta: naohaalmocosgratis@fcee.ucp.pt
Veio parar à minha caixa de correio e achei-lhe graça...

Em Novembro de 2037, Portugal passou a chamar-se T-011. Essa mudança veio de uma directiva comunitária que impôs a cada país da União Territorial (o novo nome da Europa) a designação pela letra T seguida do número de ordem na adesão à comunidade. Este é, simplesmente, o resultado mais recente do processo de «neutralidade ideológica» em que a antiga Europa está empenhada há décadas. Tudo começou em 2003 com os debates à volta dos símbolos religiosos em lugares públicos. Na ex-França (actual T-002) protestava-se contra os véus das alunas muçulmanas nas escolas, enquanto em T-005 se discutiam os crucifixos nas salas de aula e por toda a União alguns rejeitavam a referência ao cristianismo na Constituição Europeia. Todos estes casos foram resolvidos pela segunda adenda a este documento, que em 2006 decretou que o Estado deveria manter sempre a mais estrita tolerância e neutralidade em questões ideológicas, para não ofender a sensibilidade de qualquer minoria. Mesmo na unanimidade e consenso, jamais as autoridades poderiam cair na tentação de ceder para evitar problemas futuros.

As questões multiplicaram-se. Logo a seguir foram denunciados os feriados sectários, como o Natal. As festas religiosas nacionais eram um insulto a todos os cidadãos não-cristãos. Os feriados desapareceram com mesma directiva que obrigava a cobrir com tapumes os templos e sedes de partidos para não ofender a sensibilidade dos transeuntes. Também os nomes dos meses do ano, que nas línguas europeias vêm da mitologia, tiveram de ser mudados. As sugestões dos calendários da Revolução Francesa e positivista de Comte foram rejeitadas por igualmente facciosas. O único consenso foi passar a usar letras nos meses. Mas na numeração dos anos manteve-se a situação, para facilitar contactos com outras zonas. Só que se chamou «era estela» e não «era cristã», porque o acontecimento marcante passou a ser um facto cósmico: a «estrela dos reis magos». Deve dizer-se que este atitude era estritamente europeia, pois as outras zonas do mundo, sobretudo EUA, Índia, China e Islão, estavam em afirmação crescente das suas culturas. Eram aliás as minorias vindas dessas regiões que levantavam os problemas e iam exigindo o crescente recuo da cultural europeia para a neutralidade. Depois a questão ultrapassou o âmbito religioso. Em 21-H-2024 as disciplinas de História, Filosofia e Línguas foram retiradas dos programas escolares oficiais, pelas mesmas razões que 15 anos antes tinham tirado as cadeiras de Religião: era impossível arranjar matérias que respeitassem a neutralidade do Estado. Além disso, a lei deixou de regulamentar casamentos ou divórcios de qualquer espécie, por serem opções íntimas de cada um. As ruas são lugares públicos e de repente descobriu-se muita gente afectada pelos seus nomes. Por toda a Europa houve esforços para apear monumentos ou alterar os nomes de ruas em honra de pessoas que só agradavam a minorias. E havia minorias ofendidas por todas as ruas e estátuas. As controversas personalidades históricas, sobretudo políticos e militares, não podem ser honradas pelo Estado neutro. A única solução foi usar números nas ruas. Agora tiraram-se os nomes aos países, que lembravam velhos impérios. Há já quem sugira que se substituam os nomes das pessoas, que podem ser ofensivos para alguns, pelo número do Bilhete de Identidade.