A praxe
Há alguns dias atrás li online num dos jornais portugueses a notícia de que alguns alunos do Instituto Superior Técnico tinham simulado um assalto a um dos balcões da Caixa Geral de Depósitos. E quando a polícia acorreu ao local afirmaram que se tratava de uma praxe. Será que os ditos indivíduos não dispõem de um órgão (que a maioria dos mortais humanos possui, embora possa ser mais ou menos desenvolvido) chamado cérebro? É que não é preciso ter um QI muito grande para perceber que simular um assalto é uma coisa grave, mesmo que seja na praxe.
Nunca me demonstrei contra aquilo que cai no meu conceito da praxe; uma actividade ORGANIZADA, que tem como objectivo fazer a recepção aos caloiros, e promover o contacto interpessoal e a boa disposição. (pelo menos, este é o meu conceito) No entanto, a praxe não é desculpa para fazer asneira; para além disso, a maneira como a praxe é feita hoje em dia deixa muito a desejar.
Para começar, o clima de intimidação que circula em torno da praxe e a ideia que “Se não fizeres tudo o que eu mando lixas-te!” não interessa a ninguém. Não é pelo facto de se ser mais velho que o caloiro que se tem o direito ou algum tipo de razão para o tratar abaixo de cão, como é por vezes o caso.
Depois, a CAMBADA de frustrados (gajos a quem normalmente ninguém liga a ponta de um corno; umas autênticas figurinhas, por mim apelidados de CROMOS) que aproveitam a praxe para terem a sensação de que são importantes, ainda que dure só uma semana. “Eu é que mando aqui!!! Caloiro, de 4, já!!!” Não bastassem estas criaturas inteligentes, parece que hoje é moda armar-se em duro e obrigar os caloiros a tratar-nos como entidades supremas. Tenham a santa paciência!
Em terceiro lugar, a hierarquia. Se bem que acho que, neste espírito académico, é necessária a existência de uma hierarquia, (principalmente para garantir o bom uso da praxe, visto que os mais velhos deveriam ser mais “sábios”) porque é que um caramelo que está há 10 anos a tirar um curso é visto como o “Supra-sumo Académico”? Será que os 10 anos que passou a passear os livros lhe dão mais inteligência que um gajo que foi capaz de fazer o mesmo curso em 5 anos? Não entra bem na minha cabeça como é que no meio académico se dá mais crédito aos que, quando finalmente acabarem o curso, vão ser preteridos em favor daqueles que uns anos mais tarde apelidavam de “bestas”...
Por último, e muito por consequência dos pontos apresentados anteriormente, porque é que na praxe se insiste em fazer coisas completamente idiotas? São uns que assaltam bancos, outros que se despem e simulam orgasmos em público, outros que se rebolam em estrume, ... Não sou contra que se façam “coisas” (actividades, jogos, etc.) que não se fazem todos os dias. No entanto há muitas iniciativas que ajudam o pessoal a desinibir-se, a conhecer outras pessoas, a conhecer a universidade, o ensino público, etc sem que se obrigue as pessoas a fazer figura de estúpido, cometer crimes, etc...
Não sou contra a praxe. Sou contra a maneira como muita gente encara a praxe e contra aquilo que se faz muitas vezes na praxe.
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